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fabio morais
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qual foi o primeiro contato com publicações de artista?
há uma cena, deve ter sido em 1997 ou 98, na graduação: a dora longo bahia tasca um monte de livros sobre a mesa e começa a dar aula. um deles era o "a hundred times nguyen”, do alfredo jaar. folheei e fiquei mudo com esse trabalho. até hoje ele me cala. daí, a possibilidade do livro como obra se tornou pulga atrás da minha orelha. é a memória mais longínqua que tenho.

quando e como começou a publicar?

no final dos 1990, eu imprimia uns livros em casa e dava para amigos. se encontro um exemplar hoje, na casa de alguém, taco fogo. considero o para, de 2003, minha primeira publicação. é uma coletânea de dedicatórias de autores que eu colecionava em um enorme arquivo word, e propus o livro para a curadoria de uma exposição que eu participava. minhas primeiras publicações tinham tiragem baixa e respondiam ao espaço expositivo. não havia circuito editorial para publicação nessa época e livro de artista era um bicho tão estranho quanto um cágado. eu me autoeditava e expunha livros por pura teimosia e desacato. somente com a abertura do espaço tijuana na galeria vermelho, em 2007, minhas publicações começaram a circular sem passar pelo crivo expositivo do cubo branco.

gostaríamos que você falasse sobre o ato de editar seus próprios trabalhos.

a autoedição foi uma forma de não enlouquecer, de não fazer bobagem, de existir. autoeditar é importante, é uma reivindicação de voz frente a um ambiente cultural que arbitra seleções cujos parâmetros não te contemplam porque você não atua nas pautas na moda, porque você é dissidente em relação ao zeitgeist oficial, porque você é esquisito, porque você tem uma pegada mais cabeçuda, porque dança mal a dança das socializações de circuito, porque você não é parte do teatro de meritocracias da elite econômico-intelectual etc. mas, depois de ser publicado por editoras, percebi que tenho preguiça de me autoeditar, dá muito trabalho e tem um quê de punheta: eu, só comigo mesmo, contente em frente ao espelho. com o tempo, a auto-edição adquiriu outra estratégia: em toda exposição minha, dou um jeito de editar um cartaz, um jornal, um folheto, uma obra que faça parte da mostra, possa ser levada e, assim, espraie o que concentrei no cubo branco e exploda a exposição em estilhaços que vão parar nas casas das pessoas que a visitaram. nesse caso, a autoedição surge porque ela já tem um modo de circulação a priori: a exposição.

como você pensa na circulação das publicações?

é uma questão complexa porque editar é fácil, joga-se a gráfica no cartão em 120 parcelas e tudo ok. o problema é circular o que se edita. e como o mercado editorial “profissional” acha o que a gente faz chinfrim e diletante, e o circuito de arte acha o que a gente faz obra menor, a circulação acaba sendo a de mascate — que é o que fazem as editoras e artistas indo de feira em feira. mas não sou uma editora e também não tenho traquejo social para encarar o mascate, então não consigo responder a essa pergunta tão bem. volto ao que escrevi antes: tenho pouco me editado e o circuito expositivo tem possibilitado a circulação das obras impressas que ainda produzo. animo também em experimentar outros meios de circulação, como calendário, obra que produzi há uns dois anos e distribuí entre as editoras que já haviam me publicado para que dessem de brinde, junto as suas vendas de fim de ano. hoje, só me edito se tenho um modo de circulação já dado.

por que publicar?

é um contraponto que faço à lógica exclusivista, elitista e de pouca circulação das minhas obras de natureza expositiva. adoro atuar no espaço expositivo, misto de arquitetura, espaço histórico codificado e espetáculo, mas pode ser frustrante produzir apenas trabalhos que, com sorte, serão expostos duas ou três vezes na vida e, com mais sorte ainda, serão comprados, com o risco de nunca mais retornar à esfera pública. editar uma grande tiragem que se espalha para além de onde minha vista alcança talvez seja meu modo de fazer a obra chegar às mãos daquele moleque que fui, que frequentava o centro cultural são paulo mas nunca subia nos mezaninos reservados às exposições de arte, pois preferia vasculhar a biblioteca da instituição e lá ficar até à noite para ver o show da angela ro ro no teatro ou para assistir às mostras de filmes, na sala de cinema ao lado. a publicação ecoa a poética por outras topografias culturais e afetivas às quais a bolha do circuito de arte mantém-se fria e distante. 

indique três publicações que te fazem querer continuar publicando.

eu vou citar publicações mais históricas que não só me inspiram mas que eu adoraria ter, aí talvez alguém me dê de presente: um “passport”, do félix gonzález-torres; um cartaz “viva vaia”, do augusto de campos, que vem dentro da caixa preta, co-autoria com o julio plaza [a caixa preta inteira não precisa]; um jornal da mirtha dermisache. ah, queria também um “señalamiento de tu mano”, do edgardo antonio vigo. vou citar mais um, detesto números pares: uma coleção com todas as embalagens antigas que a lygia pape fez para a piraquê, a mais perfeita diluição do pensamento artístico-gráfico-objetual na vida, para brincar de ballet neo-concreto com sólido geométrico de bolacha de maizena, sobre a mesa da larica. queria ainda alguns números do jornal dos panteras negras, com as ilustrações do emory douglas. deixa eu pensar num sétimo...

se quiser, conta pra gente: como você e a flamboiã se conheceram?

fui assediado em uma noite em que eu estava desembarcando do 183-corredor sudoeste, no ticen.

conheça o trabalho do fabio morais:

fabio-morais.blogspot.com

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